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Passaste por mim com simpatia,
mas quando me viste os olhos parados,
indagaste em silêncio ...
porque vagueio na rua.
Talvez por isso diminuiste o passo...
e embora te quisesse chamar,
a palavra esmoreceu-me na boca.
 
É possível que tenhas suposto
que desisti do trabalho,
no entanto, ainda hoje,
bati em vão, de oficina em oficina...
Muitos disseram que ultrapassei a idade...
para ganhar dignamente o meu pão,
como se a natureza do corpo
fosse  condenação de inutilidade,
e outros,
desconhecendo que vendi
minha melhor roupa
para aliviar a esposa doente,
despediram-me apressados,
acreditando-me vagabundo sem profissão.
 
Não sei se notaste...
quando o guarda me arrancou
da contemplação da vitrine,
a gritar palavras duras,
qual se eu fosse vulgar malfeitor...
ladrão até...
Porém, que nem de leve
me passou pela mente a idéia do furto;
apenas admirava os bolos expostos,
recordando os filhinhos
a me abraçarem, com fome,
quando retorno à casa.
 
Ignoro se observaste...
as pessoas que me dirigiam gracejos,
imaginando-me embriagado,
porque eu tremesse
enconstado ao poste;
afastaram-se todas,
com manifesto desprezo,
contudo...,
não tive coragem de explicar-lhes
que não tomo qualquer alimento,
há três dias..
 
A ti,
porém que me fitaste sem medo,
ouso rogar apoio e cooperação.
Agradeço a dádiva que me entendas,
no entanto, acima de tudo,
em nome do Cristo que dizemos amar...
peço que me restituas a esperança,
a fim de que eu possa honrar,
com alegria, o dom de viver.
 
Para isso,
basta que te aproximes de mim,
sem asco, para que eu saiba,
apesar de todo o meu infortúnio,
que ainda sou teu irmão.
 
Psicografado por Chico Xavier

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